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Terça, 01 Março 2016 21:25

Advogado David Mendes diz que só testemunhará sob custódia da polícia

O advogado angolano David Mendes, que defende em tribunal quatro dos 17 ativistas que estão a ser julgados em Luanda acusados de prepararem uma rebelião, avisou hoje que só comparecerá em julgamento, como declarante, "sob custódia" da polícia.

"Eu sou um legalista e por isso nunca seria eu a contribuir para violar a lei. Se me que querem ouvir em tribunal, a polícia que me leva sob custódia, porque eu não vou voluntariamente, tenho a lei do meu lado. E mesmo que me levem, nada vou dizer", afirmou hoje, em declarações à lusa, David Mendes, que está notificado pelo Tribunal de Luanda a comparecer em julgamento na segunda-feira.

O Ministério Público angolano pediu ao tribunal, a 23 de fevereiro - dia em que se realizou a última sessão dos julgamento dos ativistas, que continua na segunda-feira -, para ouvir aquele advogado "sob custódia", apesar deste defender os réus no mesmo processo.

David Mendes figura numa lista de um alegado governo de salvação nacional indicado para presidente do Tribunal Constitucional, documento que é utilizado pela acusação como prova contra os ativistas, não tendo o advogado comparecido naquela sessão, para a qual estaria arrolado.

"Ainda não sei se vou estar em Luanda nesse dia [07 de março], até porque formamos uma equipa de defesa, tenho outros colegas da associação, mas se comparecer é enquanto advogado para defender os réus e não para declarar contra eles. Caso contrário, têm a minha morada de casa, que me vão buscar lá", acrescentou.

Enquanto membro e dirigente da associação de defesa dos direitos humanos Mãos Livres, David Mendes é um dos advogados que assegura em tribunal a defesa de quatro dos 17 ativistas acusados de atos preparatórios para uma rebelião e um tentado contra o presidente da República.

Há uma semana, o tribunal acabou por não aceitar o pedido do Ministério Público, mas fixou uma multa de 15.000 kwanzas (85 euros) e a obrigatoriedade de David Mendes justificar, em cinco dias, a sua ausência, algo que o advogado garante que não fez nem fará.

Devido à falta de declarantes - em várias sessões e por entre sucessivos adiamentos apenas foram ouvidos pouco mais de 20 dos cerca de 50 elementos deste suposto governo de salvação nacional que estavam arrolados -, o juiz da causa suspendeu a última audiência, para continuar a 07 de março.

Em causa está a lista impulsionada e discutida nas redes sociais, como o próprio já admitiu à Lusa, pelo jurista angolano Albano Pedro, que não está acusado neste processo, sendo composta por pessoas que supostamente, segundo a acusação, iriam substituir o Governo legitimamente eleito.

Dos 17 ativistas em julgamento desde novembro, 14 estão em prisão domiciliária, um foi entretanto condenado sumariamente por injúrias no tribunal a seis meses de prisão e duas jovens aguardam em liberdade.

Lusa

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