Quinta, 28 de Março de 2024
Follow Us

Sexta, 11 Outubro 2019 12:15

Contradições de testemunhas dominam sessão em tribunal

A décima sessão de julgamento do ex-chefe dos Serviços de Inteligência e Segurança Militar (SISM), José Maria, ficou marcada por contradições em relação à hora em que os documentos sobre a batalha do Cuito Cuanavale foram retirados das instalações SISM.

José Maria está a ser julgado por crimes de extravio de documentos, aparelhos ou objectos que contêm informações de carácter militar e insubordinação.

O Supremo Tribunal Militar ouviu ontem nove testemunhas, que afirmaram que os documentos foram retirados à noite (das 18 às 0H00). Este facto obrigou o advogado de defesa a solicitar uma acareação entre as testemunhas arroladas no processo pela defesa e a testemunha do Ministério Público, que afirma que os documentos foram retirados durante o dia (das 9 às 17h).

O coronel Eurico Manuel, na altura chefe da Repartição dos Transportes do SISM, disse, durante a acareação, que conhecia apenas três dos nove indivíduos que testemunharam ontem em Tribunal e que “ não via a razão dos mesmos estarem a mentir”, tendo reafirmado que os documentos foram retirados de dia e não de noite como disseram as mesmas testemunhas.

Depoimento de Ngongo

Ainda ontem, o Supremo Tribunal Militar ouviu o deputado Roberto Leal Monteiro “Ngongo”, que já tinha sido dispensado pela defesa do general José Maria.

Roberto Leal Monteiro “Ngongo” disse que participou, de forma directa, na Batalha do Cuito Cuanavale, porque na altura era o primeiro chefe da direcção principal das operações.

O parlamentar afirmou que os documentos e mapas sobre a Batalha do Cuito Cuanavale não constituem segredo militar.

“Existe uma lei que define o prazo de classificação dos documentos e suponho que na nossa lei este prazo é de até 25 anos”, lembrou.

O deputado entende que “o mais importante é reconhecer o grande trabalho dos Serviços de Inteligência Militar que permitiu trazer os documentos que retratam o reconhecimento, da parte das tropas sul-africanas, da derrota sofrida na batalha do Cuito Cuanavale.”

Ao divulgarem-se os documentos para todos os angolanos, disse, é a demonstração de que as ex-FAPLA cumpriram com o seu papel na defesa da soberania e integridade territorial de Angola, além de que isso vai ajudar a contar melhor a história verdadeira sobre a Batalha do Cuito Cuanavale, trazendo outras versões, quer da UNITA, quer de Cuba, assim como da então União Soviética. /> O deputado reconheceu que os referidos documentos ainda não foram divulgados na África do Sul.

Instado a esclarecer se os documentos e mapas operacionais das FAPLA ainda hoje constituem segredo militar das FAA , respondeu que não, uma vez que os mesmos devem ser divulgados para o ego e estima de Angola e também para que os cidadãos saibam que ela (as FAPLA) cumpriram com a missão na época.

O general na reserva declarou que os documentos sobre a Batalha do Cuito Cuanavale já foram expostos em eventos nacionais e internacionais, tendo citado a realização de conferências internacionais em países como a Inglaterra, Rússia e Cuba, a primeira das quais com a participação do ministro da Defesa Nacional, através de uma vídeo conferência.

O deputado afirmou que, enquanto militar e angolano, está preocupado com o facto de se estar a queimar fontes utilizando os Serviços de Inteligência.

“Um país que faz isso terá dificuldade de continuar no futuro a realizar trabalhos de inteligência”, alertou.

Questionado se enquan-to general na reforma está sujeito à disciplina militar, o também antigo ministro do Interior afirmou que “quem conhece o regulamento de disciplina militar sabe que só se aplica aos militares no activo”.

Perguntado se a divulgação de documentos, mapas e material bélico relacionado com a Batalha do Cuito Cuanavale pode pôr em causa as relações entre Angola e a África do Sul, o deputado disse que não via qualquer relação entre os factos divulgados ou a divulgar e as relações entre Estados.

O juiz Carlos Vicente interrompeu o advogado quando questionava a testemunha para clarificar que o general José Maria está a ser julgado pelo Supremo Tribunal Militar por extravio de documentos militares e não por divulgá-los. Voltou a interromper o advogado quando o mesmo solicitou que se registasse na acta uma declaração política feita pela testemunha, esclarecendo que no Tribunal não se fazem declarações políticas.

O deputado do MPLA referiu que o país não se constrói com vinganças e que se “optarmos por esse caminho, o país não vai longe”, disse.

Rate this item
(0 votes)