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Quinta, 30 Novembro 2017 12:49

JES pronto para accionar o “plano B”

Com a saúde aparentemente recauchutada, José Eduardo dos Santos regressou de Espanha na 6ª feira, 24, com a firme determinação de transformar o MPLA e a sua sede, o “Kremlin”, nos centros de decisão do país. Apela à coesão no partido e foco no programa do Governo, antes de convocar reunião do BP.

José Eduardo dos Santos já sabe o que quer para o MPLA, ao qual agora, sem “obrigações governamentais “, pode dedicar o tempo que quiser. Pelos vistos, as três semanas que passou em Barcelona ajudaram-no a reflectir sobre as recomendações que quer baixar aos militantes do seu partido.

Em encontros mantidos em dois dias consecutivos na sede do MPLA com membros da cúpula do seu partido, José Eduardo dos Santos fez apelos reiterados à unidade e foco nos programas do MPLA e do Governo. Todos ali convocados por ele ouviram do líder reiteradas menções ao que ele toma como prioritário: coesão no partido e o foco no programa do Governo.

JES ainda conta com uma legião de apoiantes no partido que sub-repticiamente o incitam a roer a promessa de abandonar a liderança do MPLA no próximo ano

Na segunda-feira, 27, o primeiro de uma maratona de dois dias, recebeu o secretário-geral Paulo Kassoma. Na terça-feira apresentaram-se, separadamente, João Martins, 'Ju', secretário do Bureau Político (BP) para os Assuntos Políticos e Eleitorais, Salomão Xirimbimbi, chefe da Bancada parlamentar, e Virgílio de Fontes Pereira, antigo chefe do grupo parlamentar do MPLA, actualmente de saída para Portugal onde vai fazer o doutoramento.

Embora parecesse sereno e calmo, há quem saiu do encontro convencido que José Eduardo dos Santos não “abriu o jogo todo”. Isso é algo que deverá acontecer por ocasião da reunião do BP, circunstância que os seus indefectíveis deverão aproveitar para anatematizar as reformas que JL vem empreendendo no aparelho do Estado.

De todo o modo, os apelos que JES fez foram tomados por algumas correntes do MPLA como sendo a retoma velada de desabafos que alguns militantes vêm fazendo a respeito de algumas decisões recentes do Presidente da República.

“Uns falam em pressa, trungungo, outros falam em indisciplina partidária”, observou um analista. “Estes apelos”, acrescentou,“casam bem com a súbita defesa acirrada da disciplina partidária, o que não passa de um artifício para cercear João Lourenço”.

Julião Mateus Paulo,“Dino Matross”, secretário do BP para as Relações Internacionais e conterrâneo da actual primeira dama, Ana Dias Lourenço, e os deputados Mário Pinto de Andrade e João Pinto estão entre os que se mostram perturbados com algumas medidas tomadas por João Lourenço.

Em questão estariam decisões como o afastamento de Isabel dos Santos da presidência da Sonangol, assim como o rompimento dos contratos que o Governo tinha com a Semba Comunicações (TPA 2) e Brumangol, ambas ligadas a filhos do ex-Presidente da República.

Estas decisões, assim como a substituição do chefe da secreta militar, general José Maria, e do Comandante-Geral da Polícia, Ambrósio de Lemos, aconteceram entre 3 e 24 de Novembro, período em que JES esteve fora do país.

O frente à frente com aqueles e outros membros da cúpula do MPLA, também recebidos, foi o segundo em menos de uma semana. O seu regresso à Luanda na sexta-feira (25) foi marcado por uma improvisada reunião numa das salas de protocolo do aeroporto 4 de Fevereiro na qual participaram os membros do BP que o foram receber.

Descrito como tendo sido uma curta “prévia” do que será a reunião do BP, prevista para os próximos dias, o conclave da última sexta-feira teve como relevo os queixumes de alguns membros da cúpula relativamente à figura do Presidente da República, entretanto ausente do país. 

Fontes próximas ao que aconteceu no aeroporto disseram também que não se pode ignorar a forma “fria” como JES cumprimentou membros do BP tidos como Lourencistas. “Pedro Sebastião nunca se esquecerá deste encontro“.

Com a saúde aparentemente recauchutada, José Eduardo dos Santos regressou de Espanha com a firme determinação de transformar o MPLA e a sua sede, o “Kremlin”, nos centros de decisão do país. No Partido, ele ainda conta com uma legião de apoiantes que sub-repticiamente o incitam a roer a promessa de abandonar a liderança do MPLA no próximo amo.

Na TV Zimbo, por exemplo, João Paulo Ganga e Gildo Matias José, dois analistas que não disfarçam a sua costela eduardista, têm pregado o prolongamento do mandato de José Eduardo dos Santos à testa do MPLA sob o argumento de que só ele e apenas ele pode garantir uma transição pacífica.

JL também teria ido ao aeroporto?

Depois do que se passou na última reunião do Comité Central, em que o Presidente da República, João Lourenço, como qualquer militante de base, se pôs em sentido à chegada do líder do partido, cresceu entre os cidadãos a curiosidade de saber o que teria acontecido na última sexta-feira, dia em que José Eduardo dos Santos regressou de Espanha, onde foi, mais uma vez, procurar tratamento médico.

Todos os membros do BP do MPLA disponíveis em Luanda foram ao aeroporto dar as boas-vindas ao líder. Nesse dia, João Lourenço, Presidente da República e vice-presidente do MPLA, achava-se na África do Sul, onde fez a sua primeira visita de Estado.

Mas o que teria acontecido se ele estivesse em Luanda? Teria relegado para plano secundário a sua condição de Presidente da República e, como vice-presidente do MPLA, ir ao aeroporto saudar a chegada do seu superior hierárquico no Partido?

Os últimos provaram que, com excepção dos “tonton macoutes” de José Eduardo dos Santos, a maioria dos cidadãos deste país não convive bem com a ideia de que o Presidente da República se subordine a um líder partidário. (CA)

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