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Segunda, 17 Fevereiro 2020 21:17

Isabel dos Santos e Sonangol recebem em 2019 maiores dividendos da Galp dos últimos 12 anos

Os resultados da Galp em 2019 são divulgados na madrugada de 18 de fevereiro, antecipando a realização em Londres, amanhã, terça-feira, de um “Capital Market Day” da Galp. Os accionistas da petrolífera vão receber o maior dividendo de sempre.

A Galp vai pagar o dividendo mais alto dos últimos 12 anos relativo aos resultados de 2019, com “um aumento de 10%” face ao dividendo pago para os resultados de 2018, informa a Galp. Este incremento, que beneficiará acionistas indiretos como a Sonangol e, eventualmente, a empresária Isabel dos Santos, será “mantido no dividendo por ação ao longo dos próximos três anos (2019-21)”, esclarece a empresa.

Com a divulgação dos resultados de 2019 prevista para a madrugada de terça-feira, 18 de fevereiro, o incremento de 10% nos dividendos a pagar até 2021 pretende, segundo a empresa, reiterar “a confiança da Galp no seu plano financeiro e o seu compromisso em balancear investimentos de elevada qualidade, focados na criação de valor no longo-prazo, com o crescimento da distribuição acionista”. Isto significa igualmente que nos anos de 2019, 2020 e 2021, a acionista indireta da Galp, Isabel dos Santos – caso se mantenha como acionista indireta -, terá “potencialmente” acesso ao dividendo mais alto que receberá por via do investimento efetuado na Galp, associada à Sonangol.

No ano marcado pela divergência entre a Procuradoria Geral da República de Luanda e a empresária Isabel dos Santos (além das questões citadas pelos mais influentes jornais internacionais, relacionadas com a transferência de valores depositados em Lisboa numa conta bancária titulada pela petrolífera estatal angolana Sonangol), a Galp – indiretamente participada pela Sonangol e por Isabel dos Santos – apresenta os resultados de 2019 na madrugada desta terça-feira, 18 de fevereiro, dia em que realiza um “Capital Market Day” em Londres, com início agendado para as 10h30 locais.

Relativamente aos indicadores da Galp relativos à sua atividade nos nove primeiro meses de 2019, “haverá algumas novidades”, segundo admitem fontes da empresa, mas será mantida a parte mais significativa do comportamento da “petrolífera que se torna cada vez mais uma energética renovável”. Ou seja, o peso internacional da sua atividade continuará a dominar o desempenho em 2019, pois já se sabia que cerca de 85% do EBITDA na Galp nos primeiros nove meses de 2019 teve origem nos mercados internacionais.

Também já se sabia que parte considerável do investimento realizado em 2019 – ao todo, 573 milhões de euros -, será focado nos grandes projetos de exploração e produção, mas também na eficiência energética das refinarias. E também se sabia que a Galp quer alocar um investimento anual superior a 400 milhões de euros a projetos enquadráveis na questão da transição energética. “O investimento médio em energias renováveis e em novos negócios deverá representar entre 10% e 15% de toda a alocação de capital”, refere a Galp. E estas incluem “o aumento do peso do gás natural no mix de produção, bem como o desenvolvimento de um negócio competitivo de geração de eletricidade através de fontes renováveis”, adianta a empresa.

É significativo que o EBITDA da área de Exploração e Produção (E&P) tenha aumentado “151 milhões de euros, suportado por um incremento de 11% na produção de petróleo e gás, para o qual contribuíram tanto as operações no Brasil como em Angola, compensando a queda de 10% na cotação média do brent, ainda assim amortecida pela valorização do dólar face ao euro”, explica a Galp.

“Os investimentos no upstream permanecem focados no desenvolvimento de projetos de elevado potencial, com o breakeven médio do portefólio a manter-se em cerca de $25 por barril”, informa a Galp, referindo que “está prevista a entrada em operação de uma unidade de produção adicional no Brasil, a primeira no campo Iara, que já se encontra na sua localização final”.

Topo da agenda: Isabel dos Santos

Contudo, uma das questões mais mediatizadas sobre os resultados da Galp em 2019 relaciona-se com os dividendos que serão distribuídos em relação aos resultados de 2019, na perspetiva de saber qual o valor que caberá à sociedade Amorim Energia e, dentro desta, que dividendo será distribuído à holding Esperaza (detentora de 45% da Amorim Energia) para se chegar ao montante que será repartido entre os seus sócios Sonangol (maioritário) e Exem, de Isabel dos Santos (minoritária que detém 40% da Esperaza, a que corresponderá a um interesse indireto equivalente a 49,76 milhões de ações da Galp).

Recorda-se que a Galp já reforçou recentemente a distribuição de dividendos. “Considerando a geração de cash flow em 2018 e a estrutura de capital sólida da empresa, a Assembleia Geral de acionistas, de 12 de abril de 2019, aprovou um dividendo relativo ao exercício de 2018 de 0,6325 euros por ação, correspondente a um aumento de 15% sobre o dividendo do ano anterior”, refere a empresa.

“Destaca-se o pagamento, em setembro de 2019, do dividendo intercalar aprovado pelo Conselho de Administração, no montante de €0,31625 por ação”, detalha ainda a Galp na informação online relativa ao pagamento de dividendos, distribuídos aos acionistas de 2007 a 2018.

Além da questão dos dividendos, os resultados da Galp em 2019 ficam marcados por dois indicadores que variaram em sentidos opostos. Por um lado, a empresa extraiu mais petróleo no ano passado (no quarto trimestre de 2019 declarou um aumento de 21% na produção working interest, que atingiu 136,9 mil barris equivalentes de petróleo por dia, contra 113,1 mil barris no trimestre homólogo de 2018). E por outro lado, a cotação homóloga do petróleo foi 8% inferior no último trimestre do ano (63,1 dólares por barril de Brent no último trimestre do ano passado, contra 68,8 dólares no trimestre homólogo de 2018).

Para o aumento da produção petrolífera contribuíram o designado ramp-up (ou arranque de produção) do navio-plataforma FPSO colocado a produzir na zona de águas ultraprofundas do pré-sal brasileiro de Lula Norte, decorrente da ligação do quarto poço produtor nessa mesma zona e também do arranque da produção da unidade colocada em novembro na zona Berbigão-Sururu.

Em Angola, foram igualmente realizados processos de ramp-up das plataformas que operam o projeto Kaombo Sul, no Bloco-32. Mas não é tudo. A pior situação económica no Brasil e o enfraquecimento cambial do real não contribuem para uma valorização da atividade da Galp no grande mercado petrolífero do pré-sal brasileiro.

Além disso, a conjuntura de transição energética vivida pelas empresas petrolíferas leva-as a investirem cada vez mais em energias renováveis (onde a Galp pretende aplicar acima de 40% do investimento anual previsto até 2022), em projetos que ainda precisam de atingir a maturidade até terem retornos mais expressivos.

Os resultados agora divulgados estão em linha com o que era previsto para a atividade da Galp em 2019, atendendo a que nos nove primeiros meses do ano já tinha apresentado um Resultado Líquido Ajustado (RCA) de 403 milhões de euros, o que corresponde a uma retração de 33% relativamente ao período homólogo de 2018.

Segundo as normas do International Financial Reporting Standards (IFRS) os resultados líquidos do mesmo período limitaram-se a 283 milhões de euros, que traduzem uma quebra de 59% face ao período homólogo do ano anterior, segundo dados da empresa.

Também o investimento acumulado até ao final de setembro tinha diminuído 4%, reduzindo-se a 573 milhões de euros (face a igual período de 2018), cabendo 73% deste valor aos projetos petrolíferos. A Galp já tinha informado os mercados que pretendia investir até 2022 um montante balizado nos 1,2 mil milhões de euros por ano, atribuíndo 40% do valor global a projetos de transição energética, com destaque para os investimentos no gás natural. Acrescenta-se que a 30 de setembro de 2019, “a dívida líquida da Galp situava-se em 1,645 mil milhões de euros, o que ficava 92 milhões de euros abaixo do valor no fecho de 2018, refletindo a geração de caixa positiva da empresa nos primeiros nove meses do ano”, diz a empresa presidida por Paula Amorim. JE

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