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Quinta, 13 Fevereiro 2020 12:02

TAAG resiste à falência técnica e sobrevoa alto

Em vias de transformação de Empresa Pública (E-P) para Sociedade Anónima (S.A), apesar do espectro da privatização por indícios de insolvência, a TAAG - Linhas Aéreas de Angola mantém as "asas firmes", reforça a diplomacia e desdobra-se pelo mundo em "voos altos", alias, é o resultado de 40 anos de acúmulo de experiência.

Quando tudo indicava que a companhia decretaria falência técnica e consequente paralisação total ou parcial dos seus serviços, eis que surpreendentemente reergueu-se, abriu novas rotas internacionais, realizou centenas de viagens e mantém o “corebusiness” (foco do negócio).

Em "desafio à crise", a transportadora nacional de bandeira efectou, de Janeiro a Dezembro do ano passado, 12.942 viagens (somando partidas e regressos), com destaque para 6.549 voos domésticos, 3.782 para destinos africanos e 2.611 para países europeus e americanos, fora a Ásia (não quantificados).

Apesar de contrariedades de ordem operacional, nesse período, a companhia transportou perto de um milhão e 400 mil passageiros, 5% a menos (-79.644 pax -), em relação a 2018, em que levou a bordo um milhão e 500 mil pessoas.

Por causa do abrandamento económico internacional, despoletado em 2014 com a redução do preço do petróleo, a TAAG foi forçada a racionalizar gastos operacionais, desfazendo-se de destinos pouco rentáveis, cortando serviços, anulando certos contratos e redimensionando-se.

Até Agosto do ano passado, essa firma transnacional, que nesta quinta-feira (dia 13) completa 40 anos (desde que transformada em Unidade Económica Estatal, por força do Decreto Nº 15/80 de 13 de Fevereiro), devia ao Estado Angolano 1.2 mil milhões de dólares.

Na sequência de um conjunto de medidas oportunas, entre pontuais e estruturantes para evitar a então falência técnica ou financeira, a TAAG suspendeu (em Outubro) os voos nocturnos para Maputo, capital de Moçambique, e para o Rio de Janeiro (Brasil), para racionalizar gastos.

Para Maputo, a companhia manteve as duas frequências diurnas das quartas e sextas-feiras, enquanto para o destino sul-americano, transferiu essa tarefa (de mais de dez anos) para as congéneres Latam, Azul e Gol, com as quais tem acordos de “Spa” e “code-share” (partilha de serviços).

A operadora, que continua a voar para São Paulo, ia duas vezes por semana para o Rio, através dos voos 741 e 743, respectivamente, aos domingos e às quintas-feiras, com regresso às segundas e sextas-feiras, com os custos operacionais a superarem as receitas.

Ainda assim, manteve alguns investimentos e decisões, e adoptou a estratégia de reabrir a rota Luanda-Ilha do Sal, em Cabo Verde, depois de três anos de interregno, devido a dificuldades financeiras, com duas frequências semanais, à sexta-feira e ao domingo.

Na sequência, inaugurou (em Dezembro) a rota Luanda-Lagos (capital económica da Nigéria) com três frequências semanais, às segundas, quartas e sextas-feiras, com o voo DT-564 a partir às 11h30 para chegar a Lagos às 14h30. Os regressos também acontecem nos mesmos dias.

O reforço da frota e a modernização dos serviços continuam a ser apostas da TAAG que este ano começa a receber gradualmente novos aviões, do tipo DASH 8-400 (turbo hélice), do construtor aeronáutico canadiano "De Havillande Aircraft", num total de seis, inicialmente.

Esse processo contempla Boeing 777, contrariando a crítica que se opôs ao rompimento da parceria com a Emirates, em 2017.

Em antecipação à recepção das aeronaves, técnicos de manutenção da transportadora nacional começaram a ser capacitados para o manuseamento destes aparelhos, com formadores da Flytah (de Canadá) e da Ethiopian Arlines.

Fruto de certas correcções, pontualidade e significativas melhorias de aspectos que concorrem para o bom desempenho aéreo, em Dezembro a TAAG mereceu o prestigiado prémio "Feather" (pena, em inglês) do Aeroporto Internacional do Cabo (África do Sul).

Para a proeza, bateu na concorrência, entre outras operadoras africanas, a Kenya Airways e a Ethiopian Airlines, o que para o presidente da Comissão Executiva da companhia angolana de bandeira, Rui Careira, é gratificante por mostrar o bom trabalho realizado por toda a sua equipa.

A transportação de carga e correio, a prestação de serviços e a realização das operações comerciais, industriais e financeiras, relacionadas com a referida exploração, a realização de acções sociais e a promoção da sua própria marca são algumas das tarefas dessa empresa aeronáutica.

Em Agosto de 2019, teve de negociar a fundo com os pilotos e, agora em Fevereiro, com o pessoal navegante de cabine, para travar iminentes greves destes profissionais, que exigem melhores condições de trabalho, sociais e salários compatíveis às suas actividades.

Contudo, isso não interferiu nas metas da operadora, que, em desafio aos problemas financeiros que vive, perspectiva voar, no decurso deste ano, para os destinos africanos Accra (Ghana) e Abidjan (Côte d’Ivoire), assim como para Londres (Inglaterra) e Paris (França).

A TAAG tem uma frota de 13 aviões Boeing, três dos quais 777-300 ER, com mais de 290 lugares (recebidos entre 2014 e 2016), cinco 777-200, de 235 lugares, e outros cinco 737-700, com capacidade para 120 passageiros, utilizados nas ligações domésticas e regionais.

Surgimento e evolução da companhia

A TAAG - Linhas Aéreas de Angola, S.A - celebra nesta quinta-feira o seu 40º aniversário, desde que foi transformada em Unidade Económica Estatal, por força do Decreto Nº 15/80 de 13 de Fevereiro, o que lhe conferiu o estatuto de companhia nacional de bandeira.

A empresa foi criada em 1938 como DTA - Divisão dos Transportes Aéreos da Direcção dos Serviços de Portos, Caminhos-de-Ferro e Transportes de Angola. No entanto, segundo dados históricos, as suas operações iniciaram-se em 1940.

Naquela fase, utilizava os aviões Dragon Rapide, Klemen e Leopard Moth, tendo como primeiras linhas regulares activas Luanda-Moçâmedes e Luanda-Lobito. Os primeiros voos internacionais faziam o percurso Luanda-Ponta Negra (Congo Brazzaville).

A partir de 1948, passa a utilizar os aviões do tipo Douglas DC-3 e catorze anos mais tarde (1962) adquire o primeiro aparelho Friendship (Fokker F27).

Em 1973, a DTA transforma-se em empresa de capital misto com a designação de TAG – Transportes Aéreos de Angola, S.A.R.L., com capital maioritário do Governo, 30 por cento da TAP (Portugal) e o restante repartido por empresas privadas.

Ao longo desse ano, explora os voos domésticos e inicia as carreiras regionais para São Tomé e Windhoek, Namibe, antiga Rodésia. As rotas Luanda-Lisboa e as ligações a Lourenço Marques (Maputo), Beira (cidades moçambicanas) e Salisbury (hoje Harare - Zimbabwe) eram servidas pela TAP.

Até à Independência de Angola (em 1975), além do acrónimo TAG (com apenas um "A"), os aviões usados na altura identificavam-se com as cores branca, faixas horizontais verdes, sombreados pretos e o símbolo da palanca negra gigante, uma identidade parcialmente alterada.

Desde aquela data, passou de Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada (SARL) à Unidade Económica Estatal (UEE), à Empresa Pública (E-P) e agora à Sociedade Anónima (SA), como vanguarda do transporte aéreo angolano, cuja actividade remonta a 82 anos.

Entretanto, essa recuperação da TAAG deve-se sobretudo ao processo de privatização da operadora, em curso desde Setembro de 2018, por força de um Decreto assinado pelo Presidente da República, João Lourenço, anuindo a transformação desta em Sociedade Anónima (SA).

Com isso, a TAAG deixou de ser Empresa Pública (EP) de pleno direito e abriu-se à participação de funcionários e de empresas privadas no seu capital accionista, detendo o Estado Angolano 51 por cento, à luz de um outro Decreto Presidencial nº 275/18 de 26 de Novembro.

Até então, o objectivo era tornar a firma mais competitiva e com maior autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira, primando pela excelência dos seus serviços como "palavra-chave", que deverá também reconquistar a confiança dos clientes/passageiros.

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