"O importante não é como se começa, mas sim como se acaba", este é um ditado popular que serve perfeitamente para descrever o que se passou na quadra esta noite.
No primeiro período, os camaroneses e angolanos estiveram nivelados até o 9-9, contudo a formação orientada por Alfred Aboya embarcou numa sequência positiva que lhes permitiu ficar com um parcial favorável por 21-16.
Os pupilos de Pep Clarós sabiam que tinham de recuperar a disciplina e a concentração para não deixar o adversário fugir.
Como tal, trouxeram uma disposição mais asfixiante, uma postura mais física em cima do portador da bola o talentoso Jeremiah Hill e maior acerto, indo para o intervalo a perder por um ponto.
No terceiro quarto, onde Angola costuma ter dificuldades em registar desempenhos mais consistentes nesta competição, os Camarões exploraram a incapacidade do combinado nacional defender o pick n'roll como já acontecera frente a Cabo Verde e foram para o último período com sete pontos de vantagem.
O técnico espanhol tinha de limpar as falhas e perceber como é que podia tomar de assalto a liderança.
A missão foi árdua, requereu muita entrega, dedicação, crença, execução e acima de tudo a alma vencedora que caracteriza a selecção mais dominante de todos os tempos no Afrobasket.
Com 59-52 no resultado, Selton Miguel, que teve o melhor jogo até aqui na melhor altura possível, reduziu para 54-59, seguiu-se o potencial MVP do torneio, Childe Dundão, com mais dois pontos da linha de lance livre, 59-56.
Em seguida, Fabien Ateba de três pontos resistia à vontade dos angolanos virarem o marcador. Entretanto, Bruno Fernando respondia aos críticos por ter tido uma partida menos produtiva frente aos Tubarões Azuis e mostrava a resiliência que havia no grupo, motivando os colegas e convertendo dois pontos da linha de lance livre.
Angola agarrava o pé do Leão para que não corresse até à meta e os Camarões pediam desconto de tempo.
As bancadas na Arena do Kilamba animavam-se, o público acreditava que era possível operar a reviravolta.
Novamente, Fabien Ateba mostrava ter gelo nas veias com mais um triplo acompanhado de um lance livre, porque sofreu falta na jogada de Aboubakar Gakou.
Com os semblantes apreensivos ficavam os adeptos, mas não Childe Dundão, pequeno em estatura e gigante em momentos cruciais tornou a colocar a equipa às costas e com um triplo relançou o encontro.
Os camaroneses pareciam não sentir qualquer tipo de pressão, e Jordan Bayehe, que tinha sido o melhor elemento na primeira parte dos Leões Indomáveis, fez mais três pontos.
Ainda assim, os homens da casa não aceitaram deitar a toalha ao chão.
O jogador do Real Madrid, Bruno Fernando, foi decisivo em duas jogadas seguidas para deixar Angola apenas a um ponto, 69-68.
Contudo, o atleta dos New Orleans Pelicans na NBA, Yves Missi, faria um afundanço com autoridade, 71-68.
Do outro lado, Selton Miguel via o relógio a encaminhar-se para o fim e faria o tempo parar sofrendo uma falta e convertendo um lance livre, 71-69.
Uma roubo de bola de Aboubakar Gakou a Williams Narace permitiu um contra-ataque angolano e a bola chegou a nada mais menos que o homem dos grandes momentos, Childe Dundão.
Foi como se tudo ficasse em câmara lenta para tantos em casa como no pavilhão, até que o grito saiu como um vulcão em ebulição que se ouviu em todo o país, estava dada a cambalhota, 71-72.
A alegria não ficou por aí, uma vez que Jeremiah Hill fez um mau passe, Selton apareceu como uma seta e foi travado em falta.
Alfred Aboya tinha de reunir as tropas mais uma vez para tentar mudar o rumo dos acontecimentos com pouquíssima margem de manobra.
Caso o atleta que esteve na Summer League ao serviço dos Utah Jazz convertesse os dois lances livres, Angola sabia que ia à final, no entanto falhou um e acertou outro.
O suspense ficava no ar. Os Camarões tinham possibilidade de matar o jogo, e Williams Narace lançou de três pontos, mas não concretizou, ganharam o ressalto e tentaram outro triplo com Fabien Ateba a procurar ser herói e Bruno Fernando a ser uma autêntica parede que abafou a bola para fora.
Entretanto, Selton Miguel cometeu falta e os nervos instalaram-se com o coração a palpitar mais forte para o grupo na quadra e os angolanos espalhados pelo território nacional e a diáspora.
Yves Missi não desperdiçou o empate da linha de lance livre. Bola nos anfitriões com desconto de tempo de Pep Clarós.
A saída de bola lateral foi parar a Aboubakar Gakou que lançou ao cesto, mas sofreu falta da linha de três pontos com o tempo a escassear.
Se marcasse pelo menos um, Angola passava a ter vantagem de um ponto. Gakou lançou o primeiro e falhou. Seguiu-se o segundo e estava desfeito o nó. Agora faltava converter um último, com menos de dois segundos para finalizar.
O atleta do Petro de Luanda falhou. O combinado nacional defendeu-se e sobreviveu para carimbar o regresso à final do Afrobasket, algo que não acontecia desde 2015 quando a Selecção perdeu frente à Nigéria.
Em termos gerais, o número de roubos de bola para Angola 12 foi o dobro dos Camarões, os 34 pontos dentro do garrafão foi igualmente uma categoria em que a equipa da casa levou vantagem com 34 face a 20 do oponente, os 34 pontos de suplentes utilizados em relação aos 21 do país de Samuel Eto'o também.
Quanto à linha de três pontos, os pupilos de Pep Clarós tiveram 31%, nove triplos certeiros e 29 falhados face aos nove triplos certeiros dos Leões Indomáveis e 31 tentativas desperdiçadas.
Já a nível individual, no lado camaronês destacaram-se Jordan Bayehe com 12 pontos, cinco ressaltos e três assistências, Fabien Ateba 14 pontos e cinco ressaltos, Yves Missi dez pontos, quatro ressaltos e duas assistências, Jeremiah Hill com dez pontos, cinco ressaltos e seis assistências e por último Samir Gbetkom com 13 pontos e quatro assistências.
Por sua vez, no lado angolano, Selton Miguel foi aquele que mais esteve em evidência com 17 pontos, a juntar à produtividade de Bruno Fernando com 15 pontos e seis ressaltos, Milton Valente dez pontos e sete ressaltos, Childe Dundão 11 pontos, quatro ressaltos, nove assistências e dois roubos de bola e Gerson Lukeny com 11 pontos e três assistências.
Com este desfecho, ambas selecções não poderão descansar muito, uma vez que Camarões terá um jogo no domingo próximo, às 16 horas, na Arena do Kilamba pela medalha de bronze com o Senegal, que foi derrotado pelo Mali, na outra meia-final por 80-88.
Angola e Mali disputam domingo (24) a final do evento, enquadrado nas comemorações dos 50 anos de independência nacional, a assinalar-se a 11 de Novembro próximo.
Ficha
Angola: Childe Dundão (11) , Abou Gakou (1), Sílvio de Sousa (02), Selton Miguel (17), Milton Valente (10), Jilson Bango (lesionado), João Fernandes (00), Macachi Braz (00), Bruno Fernando (15), Kevin Kokila (03), Eduardo Francisco (04), e Gelson Gonçalves (11).
Treinador: Pep Clarós
Camarões: Yves Missi (10), Samir Gbetkom (13), Brice Eyaga (03), Williams Narace (01), Fabien Ateba (14), Tamenang Choh (06), Paul Eboua (00), Valentin Lele (00), Jordan Bayehe (12), Jeremiah Hill (10), Roger Moute (04) e Amadou Seini (00).
Treinador: Alfred Baliaba