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Segunda, 04 Dezembro 2017 21:02

Das “birras” da Tchizé às incertezas sobre Isabel

1 - José Eduardo dos Santos (JES) e os seus próximos precisam de criar, com urgência, um conselho de família para acompanhar psicologicamente a cidadã Welwitschea dos Santos. A deputada é, dentre os filhos de JES, a que menos se conforma com a perda da condição de filha do Presidente da República.

Por Graça Campos / CA

Desde o “fatídico” dia 26 de Setembro, Tchizé tem manifestado um comportamento que não a diferencia muito do de uma barata tonta. Diz e logo a seguir desdiz-se. Num encontro com integrantes do seu Clube de Chá, ao que tudo indica uma plataforma em que as pessoas ociosas se encontram para actualizarem as fofocas, Tchizé dos Santos disse-se aliviada por passar a ser uma cidadã comum. “Esta manhã acordei e a primeira coisa que me veio à cabeça foi: liberdade, alforria!”. Depois: “Confesso que quando vi aqueles quadros com o rosto de João Lourenço a entrarem na Assembleia Nacional senti um grande alívio, como uma jovem que vai pelo primeiro dia poder pagar a sua própria renda e sai da casa dos pais; José Eduardo dos Santos ofusca tudo”. Mais adiante: “Eu não passava de filha do presidente da república aos olhos das pessoas: nunca me olharam como EU, a cidadã Welwitschea dos Santos, agora, pela primeira vez, estou mais perto de ter este direito constitucional respeitado: o direito à identidade.”

Mas tão-logo o Ministério da Comunicação Social instruiu a Televisão Pública de Angola a romper unilateralmente o vínculo que tinha com a Semba Comunicação, empresa de que ela é coproprietária com o irmão Paulino, a opinião de Tchizé dos Santos a respeito do novo Presidente da República deixou de ser benévola. Tomou o rompimento do contrato como uma vendetta do novo líder do País. Numa mensagem que lhe foi atribuída nas redes sociais ela é citada como tendo dito que “em Angola os cidadãos que elevam a imagem da pátria, levam as nossas novelas a serem nomeadas a EMMY, são perseguidos e achincalhados publicamente pelo PR”.

Imodesta, a filha do ex-Presidente da República acredita que sem ela o mundo hoje ignoraria que Angola, um país independente há 42 anos, tem um canal de televisão própria.

“(...) graças a mim a TPA é a mais internacional empresa de Angola; não há nenhuma mais internacional.” E porque acredita nos seus delírios, Tchizé está convencida que mais tarde ou mais cedo Angola lhe prestará tributo pelo que julga ter feito pelo país. “(continuo a sonhar que um dia um PR me outorgará um certificado de mérito, uma comenda pelos serviços à Pátria, pela minha contribuição para a comunicação social angolana e pelo papel fundamental na criação e lançamento da mais internacional empresa pública angolana (...) muitos PR virão e eu ainda sou bastante jovem. Posso esperar”. Logo a seguir uma alfinetada ao Presidente João Lourenço. [Tenho] uma “trajectória da qual muito me orgulho e cujo mérito despacho algum jamais me irá retirar”.  A deputada termina o texto com uma citação bíblica, cujo autor não identifica: “Bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam”.

Depois dos recados a João Lourenço, a quem não considera salvador da Pátria – como se alguém o tomasse como tal –, a inconformada deputada virou-se contra o ancião Ambrósio Lukoki, por este haver defendido que José Eduardo dos Santos deve abandonar imediatamente a liderança do MPLA.

Reagindo a quente, como é sua marca registada, Tchizé dos Santos, que começou a militar nas hostes do MPLA quando Lukoki já tinha ‘barba branca’, negou ao veterano nacionalista legitimidade para falar em nome do partido de que é membro.

“Para além do camarada embaixador Lukoki merecer o respeito e gratidão de todos, também poderia ser considerado como alguém que abandonou o partido num período crítico e, ao que me consta, o fez por escrito, e se tais factos se verificarem reais o ilustre embaixador Lukoki, por quem tenho todo respeito, porque é mais velho, não tem legitimidade para falar da vida interna do MPLA porque só fala sobre a vida do MPLA quem paga cotas”.

Num recente encontro com jornalistas, Ambrósio Lukoki esclareceu que decidiu voluntariamente sair do Comité Central do MPLA, mas não se desfiliou do partido. Tchizé não sabe, mas alguém precisa de lhe dizer que ela nem embrião de gente era quando Ambrósio Lukoki já desempenhava altas funções no aparelho do Estado e do MPLA. Por conseguinte, não é a Lukoki que falta legitimidade para falar em nome do MPLA. Há, isso sim, é excesso de atrevimento por parte da senhorita Tchizé.

Apesar de ter garantido aos seus apoiantes do Clube de Chá que se sente aliviada porque a “partir dos 18 anos de idade, sobretudo depois de casarmos e termos 3 filhos, já é demasiado incomodo ser olhado como um ‘atrelado’, alguém sem identidade, sem sentimentos, sem vontade própria, sem inteligência, sem capacidade de trabalho, apenas um ‘atrelado’, uma extensão de alguém tão grandioso, que a nossa existência passa a ser, aos olhos do mundo, uma mera extensão da sua”, Tchizé dos Santos não sabe e não consegue ser outra coisa que não seja filha do Presidente da República.

"Tchizé já atirou em todas as direções. Só já lhe falta alvejar o próprio pai por haver cometido o “crime” de largar a Presidência da República. Donde, a urgência de um Comité Familiar para acalmar os “calundus” da senhora."

Se dependesse exclusivamente dela, no seu Bilhete de Identidade constaria filha de Presidente da República como profissão e até mesmo como estado civil.

Tchizé dos Santos não se adapta aos novos tempos porque não foi educada nesse sentido. O pai dela criou os filhos como pessoas especiais; cobriu-os de mimos e privilégios e não os preparou para competir no mercado em igualdade de circunstâncias com os outros cidadãos. Se o pai-presidente acreditasse na treta que repetiu insistentemente de que todos os cidadãos são iguais perante a lei, nada desse terramoto estaria a acontecer na vida de Tchizé dos Santos. O que sucedeu é que ao mesmo tempo que nos entretinha com a ladainha de que somos todos iguais, JES tratava os filhos como príncipes.

Tchizé dos Santos gaba-se repetidamente da sua formação universitária nos Estados Unidos. Formada em produção de imprensa com especialização em televisão, por que razão ela não avança para a criação de uma televisão própria? Dinheiro para comprar equipamentos técnicos e recrutar portugueses tem de sobra. Então por que não cria o seu próprio canal televisivo? Ou é-lhe mais fácil e cómodo trabalhar com meios do Estado?

Nos anos 2000, Tchizé reivindicou para si a criação do primeiro título privado de imprensa depois da independência nacional. Referia-se à extinta revista Tropical. Nessa altura já existia pelo menos um título: o Comércio Actualidade, do Victor Aleixo. Recentemente, gabou-se de ser a maior formadora de opinião em Angola. Com tanto “background”, por que será que a filha do ex-Presidente da República não consegue caminhar pelo próprio pé? A extinção do Grecima deitou tudo a perder?

Atarantada como anda, Tchizé dos Santos até se arrisca a algo que era impensável até há pouco tempo: ser punida pelo seu próprio partido. É que a Directiva Executiva nº 7 do Secretariado do Bureau Político do MPLA sobre o Código de Conduta dos Militantes do MPLA nas Redes Sociais estabelece um conjunto de regras que aquele membro do Comité Central tem vindo a espezinhar.

Por exemplo, no ponto 4 do referido instrumento estabelece-se que [o militante] deve “abster-se de divulgar, nas plataformas do Partido ou nas intervenções nas Redes Sociais, em geral, posicionamentos pessoais, bem como para autopromoção”. Um exemplo de autopromoção: “continuo a sonhar que um dia um PR me outorgará um certificado de mérito, uma comenda pelos serviços à Pátria, pela minha contribuição para a comunicação social angolana e pelo papel fundamental na criação e lançamento da mais internacional empresa pública angolana”.

No ponto 6 diz-se que [o militante deve] “abster-se de abordar nas redes sociais assuntos que, pela sua natureza, deverão ser discutidos internamente nos órgãos do Partido, aos diferentes níveis”. A referência pouco abonatória à trajectória do veterano Ambrósio Lukoki não é assunto da esfera de Tchizé dos Santos.

Ou, ainda, [o militante deve] “abster-se de produzir e de publicitar mensagens (...) que, pela sua natureza divisionista, possam afetar a unidade no seio do MPLA”. A acusação de Tchizé dos Santos segundo a qual o Presidente da República estaria a perseguir politicamente a sua família é susceptível de criar divisões no seio do Partido.

Em suma, Tchizé já atirou em todas as direções. Só já lhe falta alvejar o próprio pai por haver cometido o “crime” de largar a Presidência da República. Donde, a urgência de um Comité Familiar para acalmar os “calundus” da senhora.

2 - Na mesma semana em que foi demitida da presidência do Conselho de Administração da Sonangol Pesquisa e Produção, cargo para o qual se autonomizou em Dezembro do ano passado, Isabel dos Santos viu a SODIAM cortar-lhe as asas, ao denunciar um contrato em que a representante do Estado arcava com os custos e o casal Sindika amealhava os lucros.

Agora, sim, sem mais esse amparo do Estado é que se há de ver se Isabel dos Santos é tão empreendedora quanto alguns ingénuos e distraídos acreditam.

Como se diz nas redes sociais, agora que ficou sem a muleta do pai, sem os dólares do BNA, sem os dinheiros da Sonangol, sem os contratos ganhos sem concurso e sem as artimanhas como estas com a SODIAM, é que se verá em quanto tempo ela se vai manter bilionária e a mais “brilhante” gestora angolana.

Há dias, o Sousa Jamba publicou no Facebook o seguinte texto: “No Quénia havia um grande empresário chamado Gideon Moi, filho do então Presidente Daniel Arap Moi. Dizia-se que o homem era o melhor empresário do continente. Em Moçambique havia também um outro empresário de renome, filho do então Presidente Chissano, chamado Nympine Chissano. Lembro-me de artigos na imprensa estatal louvando a sua capacidade empresarial. No Senegal havia o empresário Karim Wade, filho do então Presidente Abdoulaye Wade, que num curto tempo tornou-se multimilionário. Dizia-se que não havia cabeça para empreendimentos de sucesso no Senegal como a do Karim. No Zimbabwe havia o grande empresário Leo Mugabe, sobrinho do então Presidente Mugabe, que ganhou o contrato para construir o famoso aeroporto de Harare.

Não sei por quê razão, estes empresários desaparecem logo que os seus parentes deixam o poder”...

Excepcionais gestoras e empreendedores, mas que desapareceram da circulação mal os seus pais foram afastados das presidências dos respectivos países.

Será o caso de Isabel dos Santos? Pelo menos já perdeu o “título” de Princesa... O que acontecerá quando o Presidente João Lourenço lhe retirar o monopólio para o fornecimento de equipamentos às barragens de Caculo Cabasa, Laúca e cancelar o bilionário contrato envolvendo o Plano Director Geral de Luanda? 

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