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Domingo, 21 Mai 2017 20:55

Responsável dos Espiritanos acredita que candidato do MPLA tem "visão mais larga"

O superior provincial da Congregação dos Missionários do Espírito Santo em Portugal, António Neves, acredita que o candidato do MPLA à presidência de Angola tem "uma visão mais larga" e é "mais tolerante", incluindo em relação à imprensa.

Missionário em Angola entre 1989 e 1994, num período crítico da guerra civil, jornalista, com doutoramento sobre o impacto das intervenções da igreja católica no processo de paz angolano, e autor de vários livros sobre a missão da igreja em África, António (Tony) Neves disse à agência Lusa que, apesar de o candidato à sucessão de José Eduardo dos Santos, João Lourenço, ser militar, há alguma "esperança", que espera não ver defraudada.

Para o responsável máximo dos Espiritanos em Portugal, a igreja católica tem gozado de "alguma intocabilidade" junto do Governo angolano porque durante a guerra civil esteve "ao lado das populações, procurando minorar o seu sofrimento" e manteve "um discurso equidistante", sempre pronta para "denunciar as atrocidades, fosse quem fosse o responsável".

"As relações entre o Estado e a Igreja são agora relativamente pacíficas" em Angola, embora o poder "não ache muita piada às críticas à ação do Governo, à apropriação de terras, à injustiça nos salários", aos apelos "sobre direitos humanos e à paz" e à doutrina social da igreja, afirmou.

A última carta dos bispos angolanos é "demolidora", nomeadamente na denúncia das carências na área da saúde, disse, salientando que a igreja católica expressa o que o povo não diz por receio.

Esta "autoridade moral" conquistada pela igreja católica tem permitido um reconhecimento, mesmo quando há "ataques bravos" na comunicação social "oficial", apesar de se manterem "alguns sinais de falta de liberdade de expressão", disse.

Como exemplo apontou a proibição de extensão do sinal da rádio Ecclesia para fora de Luanda, apesar de autorizada desde 1997.

Falando à Lusa em Fátima, onde assistiu, sexta-feira e sábado, às celebrações do centenário das "aparições" presididas pelo papa Francisco, Tony Neves frisou a devoção de Angola a Nossa Senhora de Fátima, patente na presença de uma delegação com três bispos e de grupos de peregrinos de várias paróquias do país, como o que a Lusa encontrou, proveniente de Luanda -- da paróquia do Cristo Rei -- e que, desde 2011, vem todos os anos ao santuário português da Cova da Iria.

Depois de uma "crise forte" em 2002, ano em que terminou a guerra civil e se assistiu a um "esvaziamento de seminários e igrejas" pela procura de gente com formação para ocupar lugares na administração, a igreja angolana teve um "recrudescimento não esperado" a partir de 2007-2008, com o aparecimento de novos seminários e a reabertura de outros de norte a sul do país, situação que constatou numa visita que fez há um ano.

"Há uma vitalidade vocacional", disse, salientando que a procura dos seminários acontece por devoção, já que a oferta de ensino e de formação superior "também explodiu", com a abertura e reabertura de escolas e universidades nas províncias, o que permite que a língua portuguesa esteja "em alta" e "completamente difundida".

Tony Neves sublinhou ainda a "boa relação" com as outras religiões cristãs em Angola, cimentada durante o "período crítico de perseguição" vivido durante a guerra, lamentando a "quantidade impressionante" de "seitas" que têm aparecido e são reconhecidas pelas autoridades, "fragilizando as igrejas clássicas".

LUSA

 

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