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Terça, 31 Mai 2016 10:21

Terror na Huíla: Estudantes e professores baleados em protesto contra aumento de propinas

Os ânimos em Caluquembe, na Huíla, exaltaram-se depois de o administrador municipal, José Arão Nataniel Chissonde, ter exarado um despacho que determinava uma comparticipação mensal de três mil kwanzas na Escola de Formação de Professores Abel Pedro, a 193 quilómetros do Lubango. Em protesto, alunos e docentes acabaram debaixo de fogo, e o director do estabelecimento de ensino foi despedido.

Baleada por agentes da Polícia Nacional quando participava numa manifestação contra a cobrança irregular de propinas em escolas da Huíla, a estudante Cecília Câmia Francisco, de 21 anos, permanece, mais de um mês depois dos incidentes, com uma bala encravada na coxa, que a impossibilita de frequentar as aulas. Um professor também foi baleado, agravando o ambiente de medo e terror em Caluquembe, denuncia o Sindicato Nacional de Professores (SINPROF).

O vice-presidente do sindicato, Manuel de Victória Pereira, que no último final de semana visitou a localidade, relatou ao Novo Jornal o drama que ainda vive a comunidade académica de Caluquembe.

"Vive-se um ambiente pesado, de violência policial, especialmente contra a mulher, a juventude e os intelectuais", denunciou o sindicalista, que evidencia os factos com mais um recente episódio de tiroteio em que a vítima foi um professor.

"Como recente comprovativo, há ainda o caso de Tomás Hungulo, professor no Chipindo, baleado no dia 18 de Maio por um Polícia, quando chegava a Caluquembe. Ficou ferido num braço e no tronco. O professor ainda está internado", contou o interlocutor.

A estudante Cecília Câmia Francisco, baleada no dia 11 de Abril, aguarda por uma intervenção cirúrgica, explicou Manuel de Victória Pereira.

Cecília Câmia é estudante da Escola de Formação de professores Dr. Abel Pedro e reside no bairro Sandula com as irmãs e um cunhado. A jovem completou 21 anos de idade no dia 5, porém deixou de ir à escola e perdeu provas, de acordo com dirigente sindical, que fala em desânimo por parte da estudante.

"Acabo de chegar de Caluquembe, onde conversei com algumas das vítimas. A jovem Cecília continua a faltar às aulas, diz não ter cabeça para estudar. Está num estado de espírito lamentável, sofre com dores físicas e não sabemos ao certo a data da sua operação", descreveu.

Do outro lado da estrada, que separa o bairro Sandula do bairro Etonga na mesma localidade, reside com os pais Paulo Alfredo Cabral, de 17 anos, outra vítima dos disparos dos agentes policiais no fatídico dia 11 de Abril. O jovem estudante foi alvejado na coxa direita, o presumível autor encontra-se já detido, pormenorizou o vice-presidente do SINPROF.

"O jovem também foi alvejado por um tiro a curta distância que perfurou a sua coxa direita. O disparo de uma Makarof foi efectuado por um agente que já está detido e que foi identificado por Muvunga Muiongo Moisés", revelou Manuel de Victória Pereira, acrescentando ainda que Paulo Alfredo é filho do líder do responsável máximo do partido da oposição CASA-CE, na localidade.

"Apesar do silêncio quase total da imprensa e entidades públicas, as vítimas precisam do nosso apoio. Fingir que tudo vai bem é hipocrisia", desabafou o académico, que solicita ajuda da sociedade para acudir às vítimas.

"Para já, podemos ajudar a família de Cecília, depositando a nossa ajuda numa dependência do BIC na conta N.º 86035513, de sua irmã Lídia Catarina Paulo Munengue Para apoiar a família de Paulo Alfredo, os depósitos podem ser feitos na conta de José Firmino Cavala (pai), N.º 11-1850284-BIC", apelou.

© Novo Jornal

 

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