Sexta, 29 de Março de 2024
Follow Us

Quarta, 03 Fevereiro 2016 13:04

Versões contraditórias marcam julgamento da seita angolana "Kalupeteka" no Huambo

O Tribunal Provincial do Huambo concluiu na terça-feira a audição de 38 declarantes no caso da seita angolana "Kalupeteka", envolvida em confrontos mortais com a polícia em 2015, mas com versões contraditórias em julgamento.

O líder da seita "A luz do mundo" e principal visado neste julgamento, José Julino Kalupeteka, também apelidado de "profeta" pelos seus seguidores, recusou a autoria dos confrontos ou de atos de violência, segundo os relatos da imprensa local.

Já a polícia e investigadores chamados a declarar garantiram em tribunal que, além do ataque atribuído aos seguidores, havia um plano de defesa armado organizado pelos fiéis no acampamento em causa.

Durante vários dias a Lusa tentou contactar os advogados da associação Mãos Livres, que assumiu a defesa dos dez elementos da seita acusados de homicídio neste processo, mas sem sucesso.

Em causa estão os confrontos entre os fiéis e a polícia, cujos agentes tentavam dar cumprimento a um mandado de captura - na sequência de outro caso de violência na província vizinha do Bié e que também está a ser julgado - de Kalupeteka e outros dirigentes e alguns dos seguidores que estavam concentrados no acampamento daquela igreja, no monte Sumi, província do Huambo.

Os confrontos levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis, a 16 de abril.

A defesa alegou anteriormente que na zona dos confrontos estariam cerca de oito dezenas de adultos, crianças e bebés, tendo a polícia apresentado em tribunal mais de 80 armas, como mocas e machados, apreendidos no local, suspeitando por isso da veracidade destas provas.

Neste processo, Kalupeteka - de 46 anos e detido preventivamente desde abril - é o principal visado dos dez acusados e está indiciado pela coautoria material de nove crimes de homicídio qualificado consumado, crimes de homicídio qualificado frustrado e ainda de desobediência, resistência e posse ilegal de arma de fogo.

Os restantes elementos são visados igualmente por crimes de homicídio qualificado consumado e frustrado.

Até ao momento, realizaram-se 12 sessões deste julgamento e para sexta-feira estão previstas as acareações finais.

A oposição angolana denunciou na altura dos crimes a existência de centenas de mortos entre os populares, naquele acampamento, e pediu uma investigação internacional, acusações e pretensão negadas pelo Governo.

A acusação deduzida pelo Ministério Público (MP) do Huambo contra os homens, com idades entre os 18 e os 54 anos, refere que as mortes dos agentes da polícia resultaram essencialmente de agressões com objetos contundentes, inclusive paus, punhais e catanas, às quais alguns polícias responderam com disparos.

A seita em causa, não reconhecida pelo Estado angolano, era conhecida por advogar o fim do mundo em 2015 e não permitir a alfabetização ou vacinação dos fiéis, tendo sido criada por José Julino Kalupeteka em 2006, depois de este ter sido expulso da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Lusa

Rate this item
(0 votes)