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Segunda, 22 Outubro 2018 22:43

Samakuva diz que se "enganam" os que pensam que João Lourenço "esvaziou" oposição

O líder da UNITA, maior partido da oposição em Angola, afirmou hoje que "estão equivocados" os que, face às medidas populares tomadas pelo Presidente angolano, pensaram que o papel da oposição ficou "esvaziado", garantindo que sucedeu o contrário.

"Estão enganados, porque é precisamente o contrário. É o Presidente da República que vem ao encontro dos anseios do povo por mudança e é assim que deve ser", afirmou Isaías Samakuva, numa "réplica" ao discurso sobre o estado da Nação, proferido por João Lourenço, no parlamento angolano, a 15 deste mês.

Numa intervenção de pouco mais de uma hora, feita num pavilhão em Viana, 25 quilómetros a leste de Luanda, Samakuva lembrou que João Lourenço tem feito "algumas promessas e até cumprido algumas", mas sublinhou ser ainda cedo para se tirarem conclusões sérias.

Samakuva manifestou "total disponibilidade da União Nacional da Independência Total de Angola (UNITA) para trabalhar com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) e com João Lourenço, na implementação do que considerou ser uma "agenda nacional para a mudança efetiva do sistema que capturou o Estado e institucionalizou a corrupção" no país.

Para o líder da UNITA, João Lourenço tem ainda um longo caminho a percorrer, até porque, disse, para se corrigir o "muito de mal que está no país", tem de se reconhecer, primeiro, as "raízes do mal", que estão no "partido-Estado", o MPLA.

"A raiz do que está mal na governação não é a corrupção, nem a impunidade nem a bajulação [palavras que João Lourenço disse no Congresso do MPLA, em setembro, e que repetiu no Estado da Nação]. Estes três males são consequência de um mal muito maior, que é a raiz de todos os males: a própria natureza do regime político instalado em Angola pelo MPLA", afirmou o líder da UNITA.

"No lugar do Estado de Direito Democrático, o MPLA instalou em Angola uma oligarquia que capturou o Estado e apoderou-se da economia nacional, com o objetivo calculado de criar teias de cumplicidades para subjugar a cidadania angolana e perpetuar-se no poder", acrescentou Samakuva.

Segundo o presidente da UNITA, a "conversão formal" do "partido-Estado" ao ideário democrático, nos anos 1990, permitiu o florescimento de uma nova modalidade, "o Estado-Predador".

"Nesse contexto, o Estado tornou-se o pai da corrupção, o principal corruptor da Nação. Todos passaram a roubar, porque todos se aperceberam que o roubo começa lá em cima e é protegido lá de cima", afirmou, insistindo na ideia de que, mesmo depois de João Lourenço chegar ao poder, em 2017, Angola "ainda é governada pelo sistema oligárquico do partido-Estado".

No "ataque político" ao MPLA, Samakuva destacou os "cinco pilares" em que se sustenta a política do partido no poder, com a primeira a tratar-se de uma força polítíca "dominante, que controla a economia, tribunais, forças de segurança, registo eleitoral e a organização de eleições",

"Um Estado fraco, clientelista, sem instituições fortes e sem contrapoderes, uma adulteração progressiva e subtil da História, a pessoalização do sistema de poder real e a sua concentração formal na figura do Presidente da República e um controlo absoluto da economia e do espaço público pela mesma família biológica", sustentou Samakuva.

Para o líder da UNITA, "se o poder corrompe, o poder excessivo e sem contrapoderes corrompe excessivamente", pelo que o resultado "deste sistema atípico de governo" são os "atos sistemáticos de gestão danosa, crimes de peculato, quadrilha, fugas de capital, fraude e corrupção", palavras que, no entender do líder da UNITA, "foram rebatizadas como acumulação primitiva de capital" ou "investimento privado".

"A captura do Estado por esse sistema de poderosos interesses políticos e económicos, instalado pelo [ex] Presidente José Eduardo dos Santos, é que constitui a raiz de tudo o que está mal na estrutura do Estado e no funcionamento do Estado", defendeu, sugerindo a João Lourenço que comece a atacar o problema "pela raiz".

Ainda no ataque político ao Presidente angolano, Samakuva questionou João Lourenço sobre se vai ou não responder aos anseios dos angolanos por uma "mudança efetiva de sistema" ou vai "limitar-se a atacar alguns dos sintomas com o objetivo de salvar o MPLA".

"Vai adotar uma estratégia própria para libertar o Estado das armadilhas da oligarquia ou vai mantê-lo capturado pelo sistema instalado pelo seu antecessor? Vai manter a adulteração da História (...) ou vai continuar a ter coragem para corrigir as mentiras históricas que o MPLA impôs à Nação?", questionou Samakuva.

Mais longe, o presidente da UNITA questionou também o sentido da promessa feita por João Lourenço de criar 500 mil novos empregos, uma vez que o desemprego tem aumentado, o mesmo sucedendo com o número de crianças fora do sistema de ensino.

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