Por Caetano Júnior
A valorização da família, o amor ao próximo, o respeito ao que é alheio, a importância do perdão e da verdade ou a força da humildade são enunciados que a Igreja apregoou ao longo dos anos e que lhe conferiram estatuto moral perante a sociedade. Para gente consciente, seria bom que a religião continuasse a cumprir esta função, uma espécie de “reguladora social” . De facto, hoje, mais do que nunca, é imperioso que a Igreja resgate o espaço que já ocupou na sociedade e, sobretudo, na vida das famílias.
Parece, contudo, que as igrejas mudaram de foco. Ou, no mínimo, emergiram outras, descomprometidas com os valores humanistas; abraçadas a causas novas, que só os seus fundadores compreendem. O quotidiano dá-nos a ver situações de desestabilização, que comprovam a ausência de palavras conciliadoras. O que muitas vezes se ouve é um qualquer pregão, como o que destilam algumas confissões ou seitas, que, ao invés de edificar, ajudam a cavar mais fundo o buraco que leva à perdição.
Com efeito, a Igreja, de um modo geral, perde, aos poucos, a sua função educativa e moralizadora; cada vez mais, aparta-se da sua condição de parceira indispensável. Ao invés de congregar, chega a desestruturar. Há famílias desfeitas em nome de Deus; há lares destruídos em homenagem a uma pretensa fé, que, no lugar de abençoar, corrói a alma e a carne e leva à indigência.
Para atender a que entidade suprema o crente deve encaminhar à Igreja tudo o que consegue? Por fidelidade a que Senhor o devoto oferece, inclusive, a própria residência à causa da religião? Em deferência a que Amo deve o fiel submeter-se a experiências atrozes, que incluem supostas curas para enfermidades que a ciência considera “incuráveis”; por amor a que Deus o religioso é obrigado a gritar orações ao longo de horas e a vizinhança forçada a conviver com a poluição sonora? Ou o amor e o respeito ao próximo deixaram de constituir bandeiras da Igreja? Portanto, a confissão religiosa alguma devia ser permitido fundar os seus pilares em bases que abrissem espaço a tão corrosivos procedimentos.
O que se assiste, na verdade, é um exercício de oportunismo, protagonizado por igrejas e seitas, comprometidas não com o bem estar moral e espiritual dos concidadãos, mas com a oportunidade que estes representam, enquanto fontes de aquisição de dinheiro e outros bens. Cresce o número de pessoas que frequenta a Igreja, o que é directamente proporcional ao surgimento de novas confissões religiosas, cujos espaços de pregação são instalados em qualquer canto, beco ou ruela. Este dado indicia a fome de pessoas por conforto, que acreditam encontrar na palavra do Senhor.
Nunca os louvores musicais foram tão escutados; nunca se tinha ouvido tanta gente a referir-se à Igreja, a Deus ou à Oração. Algumas são pessoas fragilizadas por traumas e que, por isso, procuram redenção ou dar a volta à situação. E quase sempre acreditam em tudo o que lhes diz o pregador, porque lhes fugiu a capacidade de reflectir. Apenas alguém que perdeu a faculdade de pensar aceita que um falecido parente pode ressuscitar, dias depois da morte, por arte e mestria de um pastor, a quem paga milhares de Kwanzas pelo serviço. É aterrador.
Pessoas em desespero têm pouca capacidade de raciocínio, o que abre brechas para que pastores, pregadores e outros oportunistas encham-lhes a cabeça de possibilidades, vendendo-lhes, inclusive, milagres e curas para qualquer enfermidade, dor ou sofrimento, feitos na hora. Mais ainda quando, na Televisão e na Rádio, estes “prodígios” são propalados, com experiências contadas na primeira pessoa.
Se a comunicação Social divulga feitos milagrosos de Igrejas ou Seitas, por que não haveria o comum cidadão - em alguns casos pouco esclarecido - de acreditar nessas proezas? Afinal, a Media é o Quarto Poder! JA