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Sexta, 13 Julho 2018 16:38

Os “revolucionários” sem causa

Pôs na semana passada o jurista Albano Pedro, com ligações à coligação chefiada pelo ex-dirigente da UNITA Abel Chivukuvuku, a circular nas redes sociais um post em que faz apelo a “uma revolução social sem precedentes” em Angola.

Por Filimeno Manança 

Entende o jurista que “não há dúvidas que estão reunidas as condições” para que tal aconteça.

Diz Albano Pedro que a “revolução” acontecerá “independentemente da acção dos partidos políticos da oposição”. Por outras palavras, que será uma acção inorgânica, feita pelas “massas”, em particular “os grupos de pressão da sociedade civil e dos sindicatos de trabalhadores do sector público, todos unidos pela situação de insustentabilidade social e económica do país”. Curioso e sintomático é a não inclusão do sector privado.

O jurista queixa-se da situação de “relaxe social” que os angolanos vivem. Para ele, o facto deve-se ao “benefício da dúvida que tem merecido o novo Presidente da República”. Adianta mesmo que “a partir de Setembro, se nenhum sinal efectivo for dado de modo a recuperar algum vigor na economia (…), o benefício da dúvida esfumar-se-á e iniciará um novo ciclo de pressão social, que vai certamente alcançar níveis pouco comuns e insustentáveis para o partido no poder”.

Albano Pedro, depois de consultar a sua bola de cristal, assegura que “o mau resultado da governação de João Manuel Gonçalves Lourenço é inevitável”.

Dá para concluir, sem ser necessário muito esforço, que o jurista é um daqueles opositores do actual Governo que estão a ficar cada vez mais sem discurso, perante o impacto positivo das medidas e iniciativas do Presidente João Lourenço”,

Com efeito, as medidas políticas, administrativas, judiciais e económicas tomadas pelo Presidente da República desde que tomou posse, há pouco menos de um ano, mudaram por completo a reputação do país e do Executivo, quer interna quer externa. Essas medidas começaram por dar um novo alento e uma nova esperança aos angolanos, por um lado, e, por outro, levaram a comunidade internacional a ponderar uma nova oportunidade ao estabelecimento de relações mutuamente vantajosas com Angola.

Consequência disso, não tardaram a começar a aparecer os primeiros resultados, em particular no domínio económico. Sem querer ser exaustivo, a sensível desaceleração da inflação, a diminuição da diferença entre a taxa de câmbio oficial e a do paralelo, o início da estabilização na atribuição de divisas aos bancos comerciais, o pagamento de dívidas importantes, tanto interna como externamente, bem como o anunciado reinício das obras paralisadas em todo o país, são apenas alguns exemplos, que – frise-se – só a desonestidade intelectual ousa negar.

Não quer isso dizer que não persistam graves problemas económicos e sociais, resultantes não só da crise que afecta todas as economias do mundo desde 2014, mas também da acumulação de erros de governação registados nas últimas décadas. Esses erros estão agora a ser corrigidos, como recomenda, aliás, o lema da campanha que levou o MPLA e o seu cabeça de lista à vitória nas urnas em Agosto do ano passado. Exigir que todos eles sejam reparados em menos de um ano de governação é próprio de quem não percebe que as correcções de ordem estrutural levam tempo a produzir resultados em toda a linha.

Infelizmente, para pessoas como Albano Pedro, as mudanças têm que ocorrer com violência, pondo em causa muito do que já se conquistou em dezasseis anos de paz efectiva, que não é pouco, e que o novo ciclo político se apresta a consolidar no quadro de um novo modelo de governação.

No fundo Albano Pedro mostra que não está preparado para viver em democracia, que não aceita mudanças pacíficas, que são a regra e prática normal em regimes democráticos. Está claramente a defender uma ruptura constitucional. Ou seja, a ascensão ao poder não por via de eleições, conforme está consagrado na nossa lei magna, mas sim através de uma actuação irresponsável que está a chamar de “revolução social”.

No passado já tivemos experiências do género que ficaram como uma lição amarga para a nossa História. Os resultados foram trágicos, o país ressente-se até hoje dos traumas vividos, e ninguém com um mínimo de bom senso quer deitar por terra as excelentes perspectivas que se abrem para que, a curto/médio prazo, Angola volte a conhecer níveis de crescimento e de prosperidade económica que vão permitir ultrapassar o actual cenário de dificuldades.

As lideranças partidárias e as vozes respeitadas da sociedade civil não podem ficar indiferentes e deixar de reagir contra este tipo de manifestações aventureiras, susceptíveis de pôr em perigo não apenas a estabilidade e a coesão nacionais, como a própria ampliação e consolidação da jovem democracia angolana.

* Director Nacional de Publicidade. A sua opinião não engaja o Ministério da Comunicação Social. JA

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