A informação foi transmitida hoje, em Luanda, por Igor Frolov, responsável pela construção do satélite AngoSat-1 pela empresa russa RSC Energia, numa conferência de imprensa de balanço ao projeto do primeiro satélite angolano.
O responsável russo, apresentado como o "pai" do AngoSat-1, descreveu que desde o seu lançamento em órbita, a 26 de dezembro de 2017, ocorreram várias falhas de comunicação com a estação em terra, mas sem apresentar qualquer explicação oficial para a "situação anormal" detetada.
"Diante disto, foi tomada a decisão de serem suspensas as operações com o satélite. Para não colocar em risco os outros satélites que estão em órbita", explicou Igor Frolov, classificando a ocorrência, a primeira do género na RSC Energia, como um "problema técnico extremo".
O responsável respondia aos jornalistas após a assinatura de uma adenda ao contrato de construção do satélite angolano (de 2005) com o consórcio russo formado pela S.P. Korolev e SC Energia, na presença de representantes do Governo de Moscovo e da agência espacial daquele país europeu, a Roscosmos.
Acrescentou que os trabalhos para tentar recuperar o AngoSat-1 vão continuar até 15 de maio, tendo sido criada uma comissão de especialistas dos dois países para averiguar o que esteve na origem do problema nas comunicações do satélite, construído na Rússia e que desde novembro de 2013 envolveu cerca de 5.000 técnicos daquele país europeu.
Seguindo o que prevê o contrato com o Governo angolano, Igor Frolov anunciou que a partir de terça-feira, 24 de abril, arranca na Rússia a construção do AngoSat-2, no âmbito da adenda, com as compensações, feita ao contrato inicial.
"Terá um custo muito alto, mas é uma obrigação nossa", admitiu, assumindo que a operação está coberta pelo seguro, mas recusando-se a revelar quanto custará em concreto a construção do novo satélite.
"Não vai envolver qualquer custo para a parte angolana, todos os trabalhos que se seguem vão estar dentro das compensações", garantiu.
O responsável acrescentou que o novo satélite deverá ser lançado "durante o último trimestre de 2020", tendo "melhores especificações em relação ao anterior", determinadas em 2005.
"E em parte já não estavam ajustadas às necessidades atuais", disse o especialista russo.
O AngoSat-2 terá "altas taxas de transmissão" com cobertura na Banda C e na Banda KU, cabendo à RSC Energia, no âmbito das compensações, garantir os custos de manutenção do centro de controlo construído na Funda, em Luanda, até ao lançamento do novo satélite. Bem como a formação de quadros e a disponibilização de largura de banda até à entrada em funcionamento do AngoSat-2.
Segundo o Governo angolano, o projeto AngoSat prevê reforçar a cobertura de internet nas escolas, lançar projetos de telemedicina em todo o território e promover a expansão do sinal da rádio e televisão.
"Com as compensações, nós não interrompemos esse programa. Vamos continuar a fazer tudo o que estava previsto", garantiu o ministro das Telecomunicações e das Tecnologias de Informação de Angola, José Carvalho da Rocha.
Questionado pela Lusa sobre o futuro dos dois satélites caso seja retomada a comunicação com o AngoSat-1, Igor Frolov esclareceu que se as especificações estiverem "de acordo" com o contrato, "a parte angolana terá de o receber".
"Se não estiver dentro das especificações determinadas no contrato, o AngoSat-1 será utilizado para treino e formação", disse ainda.
Tal como o primeiro, o AngoSat-2 deverá ter um período de vida de 18 anos de serviço.
Construído por aquele consórcio estatal russo, cujas negociações entre os dois países arrancaram em 2005, o AngoSat-1 foi lançado em órbita, a partir do Cazaquistão, com recurso ao foguetão ucraniano Zenit-3SLB.
Globalmente, o projeto AngoSat-1 representa um investimento superior a 320 milhões de dólares (262 milhões de euros) do Estado angolano e pretende reforçar as comunicações no país, fornecendo serviços ainda para parte do continente africano.