Quinta, 18 de Abril de 2024
Follow Us

Quinta, 02 Novembro 2017 09:55

Fábrica de Cimento FCKS foi encerrado por falta do combustível

A Fábrica de Cimento do Kwanza Sul (FCKS) dispensou, ontem, cerca de 900 trabalhadores directos e 700 indirectos e anunciou formalmente a sua paralisação por falta do combustível fight fuel oil (HFO), uma das matérias-primas utilizada na produção do clínquer, componente fundamental para o fabrico de cimento.

No sábado, o Jornal de Angola deu conta de um plano de despedimento de trabalhadores da FCKS, que podia começar a ser executado ontem, o que veio a acontecer.

Em carta dirigida ao Governo da Província do Cuanza-Sul, a direcção da fábrica diz que o problema de falta de combustível arrasta-se desde Janeiro deste ano e junta-se a outras dificuldades que o sector atravessa, que concorreram para o aumento dos custos de produção. Em declarações à imprensa, o director operacional da FCKS, Edmundo Ferreira, disse esperar que quem tem responsabilidade na matéria vele pela situação, visto que vai afectar muitas famílias que têm na fábrica a sua principal fonte de receitas.

Até à conclusão da venda de um stock de 13 mil toneladas, o departamento comercial deve manter-se em funcionamento, informou Edmundo Ferreira.

Segundo se apurou, o problema da falta de combustível afecta quatro das cinco fábricas de cimento existentes no país. Pois, a par da FCKS, a do Bom Jesus, pertencente ao gigante chinês CIF, também paralisou pelos mesmos motivos. As duas unidades juntas respondiam em mais de cinquenta por cento pelo clínquer produzido no país.

As fábricas Sécil Lobito e a Cimenfort, localizadas na província de Benguela, não produzem clínquer e adquiriam o produto a partir do Cuanza-Sul, com todas as vantagens resultantes da proximidade geográfica entre as duas localidades. Com a paralisação da FCKS, a aquisição do produto fica encarecida, entre outros factores, pela distância.

Reacção da AIA

O presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, disse que a paralisação da fábrica de cimento, na província do Cuanza-Sul, tem um impacto psicológico e emocional na economia angolana, uma vez que o cimento é basilar para a construção civil.

“O impacto económico já existia, porque a fábrica funcionava com apenas 100 trabalhadores, utilizando os restos de cimento. Já não estava em plena actividade”, disse José Severino, ressaltando que “era uma situação previsível e lamentável, porque a FCKS é um grande investimento do Estado e tem uma garantia colateral com a Sonangol.”

A fábrica tem um processo integral, deu um passo significativo, em termos de cimento feito com o calcário nacional, com a passagem pelo clínquer em 92 por cento da composição do cimento. “A empresa tem uma grande valia, porque já tinha certo peso na exportação”, salientou.

O despedimento de cerca de 1.200 trabalhadores é uma situação não das melhores. José Severino recomenda ao Estado, o financiador do projecto, e à Sonangol, credora pelo fornecimento dos combustíveis até recentemente, uma intervenção conciliadora, no sentido de resolver-se o problema.

Neste momento, das cinco fábricas de cimento do país, três já estão a funcionar nomeadamente a  Cimangola, Sécil e Cimenfort. As duas fábricas de cimento em Benguela têm uma elevada dívida para com a Sonangol, mas encontraram uma alternativa,  utilizando outra tecnologia, que é queimar os fornos com o carvão mineral. José Severino aconselha as fábricas a utilizarem essa técnica, uma vez que o combustível não será eterno, além de grande parte ser importado. “Fazer cimento com carvão mineral fica sempre mais barato”, sublinhou.

Associação Cimenteira

Sobre o assunto, a Associação da Indústria Cimenteira de Angola (AICA) revelou que as causas do problema remontam a 2014 e estão associadas à queda do preço de petróleo bruto no mercado internacional, que levou o Executivo a eliminar a subvenção dos preços dos combustíveis, incluindo o utilizado pelas cimenteiras. 

O fim das subvenções dos preços dos combustíveis, de acordo com a AICA, já encontrou as empresas numa trajectória ascendente de custos de produção, devido à desvalorização da moeda e do aumento das taxas de juros bancários

Jornal de Angola

Rate this item
(0 votes)