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Terça, 23 Agosto 2016 11:29

BNA alerta bancos comercias sobre política monetária e cambial

O mercado nacional está a ser caracterizado por uma conjuntura económica difícil, marcada pela redução das exportações de crude, diminuição das reservas externas e indisponibilidade de divisas para liquidação de transacções. É igualmente marcado pela desvalorização do kwanza e uma diferença acentuada entre a taxa de câmbio dos mercados formal (notas) e informal, sendo uma fonte de desequilíbrio do mercado cambial Com efeito, o Banco Nacional de Angola (BNA), atento à actual situação, tem vindo a adoptar uma série de medidas e regras com vista a mitigar os efeitos negativos do actual momento sensível por que passa a economia do País. Entre as medidas de contenção do BNA em 2015, por exemplo, conta a desvalorização do kwanza, uma nova regulação do mercado cambial, gestão da liquidez excedentária e a adopção de mecanismo pontual de venda de divisas. Os objectivos das deliberações foram contrariar a aceleração da inflação e ajustar a economia nacional à conjuntura actual.

Recentemente, o órgão regulador do sistema monetário nacional reuniu com os bancos comerciais, em Luanda, com o objectivo de interagir com as instituições bancárias, no sentido de se dar a conhecer o quadro de implementação da política monetária e cambial, que o BNA tem estado a implementar nos últimos anos.

Colaboração é essencial

Segundo Tiago Dias, vice-governador do BNA, o encontro serviu igualmente para mostrar algumas indicações sobre as perspectivas que se abrem em torno do programa da política monetária e cambial do banco central, que exige que haja uma estreita colaboração entre o BNA e os bancos comerciais, uma vez que aqueles actores contribuem para que as políticas adoptadas pelo banco central possam reflectir-se a nível da economia do País.

Relativamente aos preços, o governante explica que o facto resulta de um desequilíbrio entre a oferta e a procura a nível do mercado de bens e serviços, frisando que o BNA tem estado empenhado em tomar medidas com vista a amenizar os efeitos nefastos da crise. “O que nós apresentámos neste encontro prende-se com o facto de as medidas que vimos a tomar começarem a surtir algum efeito e, obviamente, terá de ser prestada uma maior atenção a nível da oferta de bens e serviços”, disse. Quanto à situação cambial, Tiago Dias sublinha que uma das causas tem que ver com a redução substancial das receitas de exportação, sobretudo do petróleo. “Tivemos a oportunidade de apresentar, neste encontro, o comportamento das receitas da exportação e as quebras vertiginosas que essas receitas apresentam desde 2013. Certamente que há que fazer ajustes quando acontecem choques externos que afectam as receitas de exportação”, afirma.

Segundo o BNA, as medidas de controlo adoptadas nos últimos anos contribuíram para o abrandamento do crescimento da base monetária em moeda nacional, passando de 61% em Dezembro de 2015 para 23,6% em Junho de 2016, cujos factores foram a eficácia das operações de facilidades permanentes de absorção de liquidez com maturidade de sete dias. Ao nível da política monetária, por exemplo, o BNA entende que uma melhor implementação do instrumento passaria também por uma melhor estratégia na implementação da política cambial. Do lado monetário, perspectiva-se, a curto prazo, a afinação das decisões entre as diferentes políticas, visando o controlo adequado da liquidez, contribuindo para a desaceleração da inflação.

Ajustamento das taxas de juro directoras do banco central visando a redução do corredor de taxas de juro, tornar as taxas de juro mais atractivas e a adequação das reservas obrigatórias fazem também parte das perspectivas futuras.

No médio e longo prazo, por exemplo, a política cambial visa garantir a manutenção do nível geral de preços no País e contribuir para o crescimento sustentado da economia. Ao nível da política cambial, o BNA entende que, no curto prazo, perspectiva-se a continuação da flexibilidade administrada, baseando-se na priorização da venda de divisas visando garantir a importação de insumos para a produção nacional, importação de bens alimentares e outros de consumo corrente de primeira necessidade, e ao banco emissor perspectiva, igualmente, a realização de despesas prioritárias do Estado, programas sectoriais do Governo, gestão da política cambial com maior estabilidade e regularidade em termos de oferta de divisas.

O projecto tem ainda objectivo de implementar mecanismos e sistemas automáticos de controlo de operações cambiais, visando a tomada de decisão e actuação mais eficiente.

Garantir um controlo eficaz da posição cambial dos bancos, para prevenir situações que possam perturbar o funcionamento dos mercados financeiros e sua reputação no exterior, são algumas metas do banco central. De acordo com o BNA, já no médio e longo prazo perspectiva-se uma maior flexibilidade da política cambial.

A banca como factor de desenvolvimento, diz o Sol Para o chairman do Banco Sol, Coutinho Nobre, a banca desenvolve um papel preponderante para o crescimento e desenvolvimento de um país. Portanto, acrescenta, as instituições bancárias devem ser o parceiro estratégico do Governo nos programas de fomento, promoção e consolidação empresarial. “Nesta conjuntura desfavorável da economia nacional, a banca deve elevar a sua capacidade em termos de reforço do tecido empresarial, por intermédio da concessão de créditos responsável, com um conjunto de garantias, projectos estruturados e exequível e também uma gestão diligente”, revela. Considera que a banca deve exercer o seu papel fundamental de intermediação financeira.

Este papel deve ser exercido para que a economia possa crescer e desenvolver-se, com a concessão de mais crédito à economia, transformando a poupança do mercado, ou seja, a taxa de transformação dos depósitos em crédito, com vista a diversificar a economia do País. “Sem este papel de intermediação financeira e catalisador da economia nacional, dificilmente poderemos atingir o crescimento pretendido.

Este tem sido o desafio permanente do Banco Sol, no apoio ao micro, pequenas e médias empresas”, garante, realçando que a carteira de crédito acumulada do banco ronda os 850 milhões USD (140,8 mil milhões Kz).

Banco Yetu aberto ao crédito

No entanto, Fernando Vunge, administrador do Banco Yetu, diz que os instrumentos que estão a ser implementados em obediência às orientações do banco central têm estado a surtir efeitos. Pese embora o maior foco do banco seja a concessão de crédito, a actual conjuntura macroeconómica do País tem grandes influências negativas no desenvolvimento desta actividade.

Em relação ao suposto incumpri memento das normas prudenciais pelos bancos comerciais, Fernando Vunge afirma que o sistema financeiro nacional tem de estar adequado às melhores regras internacionais. Na sua opinião, o facto obriga necessariamente a que os organismos de compliance, que têm que ver com rácio prudencial da banca, estejam alinhados com as práticas internacionais. “De facto, é chegada a altura de a banca comercial, em coordenação com o banco central, recuperar o prestígio que sempre teve no sistema financeiro internacional, de modo a prevenir o branqueamento de capitais e o financiamento ao terrorismo.”

Caixa Angola defende ajustamento às políticas

Entretanto, Fernando Marques Pereira, CEO do Banco Caixa Angola, salienta que, no que toca à política monetária, é evidente a preocupação do BNA com a estabilidade dos preços, duas âncoras fundamentais que permitem o crescimento da economia, por intermédio da diversificação dos investimentos. “Ainda sobre a política cambial, foi evidenciada, no curto prazo, a manutenção actual das políticas que o banco central tem seguido, no sentido de se trabalhar para que sejam disponibilizadas gradualmente as divisas para outros sectores não prioritários, como disse o governador do BNA, por forma a alcançar-se a estabilização da situação económica do País.”

Considera que duas coisas importantes foram ditas. “A primeira prende-se com a necessidade de os bancos comerciais ajustarem as suas práticas diárias às normas internacionais, e é o que o sistema financeiro angolano tem feito nos últimos anos, seguindo as normas de compliance. Note-se que neste ano a banca irá abraçar as normas internacionais de contabilidade. E, por ser um banco que é também supervisionado pelo Banco Central Europeu, tem uma particular responsabilidade no cumprimento das regras prudenciais.” Em relação à taxa de transformação dos depósitos em créditos para o financiamento à economia, como recomendação do BNA, Fernando Vunge pontualiza que a mesma começa a aproximar-se aos 40%. O caminho está a ser trilhado, com cautelas inda combustíveis.

Revista Mercado

 

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