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Quarta, 23 Setembro 2015 13:05

PR pode não concorrer à sua própria sucessão nas eleições de 2017

Nos corredores do partido no poder, comenta-se existir forte possibilidade de o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, não concorrer às eleições gerais de 2017, visando a sua própria sucessão, devido à pressão familiar e de pessoas próximas.

Embora a Constituição da República lhe confira a possibilidade de concorrer mais uma vez, dados avançados ao Agora indicam que pessoas ligadas ao PR entendem que, depois de um consulado de longos anos, marcado por desafios que nunca se afiguraram simples de solucionar, é chegada a altura de desfrutar do descanso merecido, junto da sua família, alegando, igualmente, que, humanamente, o Chefe de Estado nunca teve tempo para si mesmo.

Em contrapartida, não se sabe ainda se os conselhos serão ou não acatados, mas, segundo cogitações, o assunto está a ser analisado seriamente pelos seus mais próximos colaboradores. Em Junho deste ano, o Presidente fez declarações que trouxeram à tona interpretações opostas. Alguns acreditavam que, com os seus pronunciamentos relativamente à sua sucessão, estaria a preparar o terreno para uma possível transição, mas outros entenderam que apenas tratou de enviar recados aos que ainda estavam cépticos quanto à sua continuidade.

Declarou, na altura, que, nas actuais circunstâncias do País, pretende levar o mandato até ao fim, mas apontou a necessidade de estudar com seriedade a construção da transição em Angola. "Em certos círculos restritos, era quase dado adquirido que o PR não levaria o seu mandato até ao fim, mas é evidente que não é sensato encarar esta opção nas actuais circunstâncias ", afirmou José Eduardo dos Santos no discurso de abertura da 3.ª reunião extraordinária do Comité Central do MPLA.

Analistas acreditam nessa possibilidade, mas alegam que as condições políticas e económicas que o País atravessa não são muito favoráveis à recandidatura do PR, na medida em que sobe a dívida externa com os outros estados, sobretudo com a China, aumentou o custo de vida e a economia está a pique sem muitos escapes por onde se possa socorrer. Para eles, a queda do preço do petróleo e a crise política quase notória nos últimos dois anos põem cada vez mais em destaque os problemas da eliminação da pobreza da população e do melhoramento dos sistemas de saúde pública e de ensino e, por conseguinte, tornam-se cada vez mais frequentes os boatos sobre a possível retirada da cena do Mandatário que, recentemente, completou 73 anos de idade e fará, no próximo dia 21 deste mês, 36 no poder. Tendo sido indicado a 20 de Setembro de 1979 pelo Bureau Político e investido, no dia seguinte, nos cargos de presidente do MPLA e da República e Comandante-em-Chefe das extintas FAPLA.

"Fala-se da diversificação económica, mas, partir para este desiderato, pressupõe tempo, tecnologia e preparação do capital humano, por isso, na medida em que as consciências vão amadurecendo, gera-se aquilo a que se chama saturação da consciência social à volta da figura dirigente, e isso pode ser perigoso para o PR, pois, na política, o que importa é o modo como se sai e não como se entra", alerta um influente militante do maioritário. Refira-se que, em Agosto de 2011, o PR declarou que não seria o candidato do MPLA às eleições e, em seguida, manteve-se num profundo silêncio que só foi quebrado por altura da visita ao País do então primeiro-ministro português, José Sócrates, em 2006.

Na altura, considerou que ainda não tinha tomado uma decisão exacta sobre a questão da sua candidatura. Estes pronunciamentos foram o prenúncio de alguns 'amargos de boca' que o então secretário-geral do MPLA, João Lourenço, viria a sofrer, pois, durante o período em que José Eduardo dos Santos esteve em blakc out, foi dando sinais de que queria candidatar-se ao 'cadeirão' de presidente.

Como consequência, Lourenço foi 'despachado' para o Parlamento, em 2003, onde se manteve até ser 'pescado' para titular do Ministério da Defesa. A fonte avança, igualmente, que o partido está atento ao evoluir da situação e consciente de que, actualmente, a correlação de forças se encontra a seu desfavor. Cogita-se, ao mesmo tempo, que, no seio do MPLA, está a ser preparada a possibilidade de criação de partidos satélites que servirão de suporte extraparlamentar, porque, segundo a fonte, os 'camaradas' estão sem suporte político fora das intuições e do Parlamento.

Em contrapartida, há outras correntes que defendem a permanência do PR, alegando que ele já manifestou esse interesse na altura em que mandatou ao Comité Central a criação de uma comissão encarregue de elaborar uma moção de apoio ao líder que irá ser apresentado em 2017 como cabeça de lista.

SONDAGENS.

Atenta com a situação, o MPLA encomendou, recentemente, seis empresas brasileiras para efectuar uma sondagem à volta da personalidade a que, eventualmente, poderá ser proposta como cabeça de lista nas eleições de 2017. A conclusão a que uma das empresas terá chegado é que o partido maioritário apresentasse o actual ministro da Defesa Nacional, general na reserva, João Lourenço, como futuro sucessor de José Eduardo dos Santos, nas eleições aprazadas para 2017.

Individualidades próximas ao Bureau Político não se apresentam como críticos ao nome de João Lourenço, mas existe outra corrente que fala no nome de Roberto de Almeida, actual vice-presidente do partido que, recentemente, solicitou a sua saída da direcção. Na proposta que se pretende avançar, o nome de Bornito de Sousa também figura como o possível sucessor de Eduardo dos Santos, mas, de acordo com a nossa fonte, se for avançado João Lourenço, o actual ministro da Administração do Território ficará com o cargo de vice-presidente da República e, simultaneamente, do MPLA.

As sondagens revelaram, igualmente, que, caso as eleições fossem realizadas neste momento, e o MPLA se apresentasse com o candidato 'de sempre', correria o risco de vencer as eleições com uma margem inferior a 50% de votos. A concretizar-se este desiderato, José Eduardo dos Santos arrisca-se a deixar o poder sem ter conseguido assumir o cargo da presidência da União Africana que, conforme fontes, era um dos seus sonhos, mas, avança, conseguiu internacionalizar ainda mais a sua imagem com as sucessivas contribuições políticas que tem assumido a nível da Região dos Grandes Lagos.

A questão da sucessão foi levantada abertamente pelo próprio PR em pelo menos três ocasiões, a primeira das quais a submeteu ao sigilo dos membros do BP. Na altura, procurou ouvir figuras tidas como 'mais velhas' do partido e seus conselheiros particulares, mas deles obteve o 'não', na segunda oportunidade.

AGORA